St. Pauli e Union Berlin: resistência e causas sociais em jogo
O atrativo dessas duas equipes são as bandeiras e ideologias defendidas, ainda mais em um esporte que está maculado pela falta de sensatez de seus mais apaixonantes adeptos.
Dois clubes, duas causas. A Alemanha que já viveu tempos tenebrosos na época do regime nazista de Adolf Hitler. Hoje, passados 28 anos da queda do Muro de Berlim, barreira física construída pela República Democrática Alemã durante a Guerra Fria, que separava a parte Ocidental (capitalista) da Oriental (socialista), outros muros continuaram em pé, enquanto outros mais começaram a ser levantados a favor da desintegração de ideias (ou muros, se preferir) não condizentes com a promoção humana e o direito à liberdade de expressão de grupos menores defensores de causas sociais.
No futebol alemão, os casos dos Fußball-Club Sankt Pauli von 1910 – ou St. Pauli – e 1. FC Union Berlin ilustram a luta de comunidades contra a intolerância em seus diversos aspectos na Alemanha. Se por um lado, o clube nascido em Hamburgo defende o cessar de atitudes racistas, sexistas, homofóbicas e fascistas, a agremiação surgida do lado oriental alemão sempre manteve como base os interesses da classe trabalhadora, assim como o apoio de hippies e punks, que junto com a torcida, entoavam: “o muro vai cair”, em referência ao divisor que separava o pais no passado.
O atrativo dessas duas equipes que vivem alternando entre a elite e o segundo escalão do futebol alemão são as bandeiras e ideologias defendidas, ainda mais em um esporte que está maculado pela falta de sensatez de seus mais apaixonantes adeptos que ousam teimar com suas posturas antiquadas para os tempos atuais carregadas de ofensas e preconceitos embaladas em palavreados com um tom além do provocativo habitualmente encontrado nos estádios.
A verdade é que o futebol não se tornou espaço para confrontos de ideias políticas e sociais somente agora. Esse cenário já rodeava o âmbito esportivo, só que não com a tamanha força que pode ser observada hoje com a transformação da comunicação aliada as ferramentas tecnológicas capazes de difundir com mais rapidez e eficiência a mensagem que esses grupos de menor poder de voz desejam passar.
O entrave entre o “pobre e o rico”, marca histórica costurada na bandeira da caveira do St. Pauli, bem como a energização do engajamento às questões operárias do Union Berlin servem de alerta para nos atentarmos aos perigos que a modernização trouxe ao futebol e ao mundo cada vez mais capitalista.
Não que a evolução da tecnologia ou mesmo a construções de estádios/arenas deva ser considerada um ultraje às tradições, mas a ganância, arrogância e orgulho envolvido nesse contexto e que toma conta de seus “senhores”, em sua maioria, engravatados e preocupados somente com o negócio, deixam enfraquecido o espetáculo que é jogado com a bola nos pés e as verdadeiras lições que precisamos aprender sobre uma civilização mais igualitária em respeito às diferenças.
Outros movimentos estritos ao grito de um futebol mais “raiz” como o “Não ao Futebol Moderno” evidenciam que o esporte e nossas condições humanas estão sendo ultrapassadas pelo mercantilismo usualmente praticado pelas elites, que estão mais a fim de reter seus mais fiéis e abastadamente “caros” torcedores do que propriamente tentar conquistar mais fatias de possíveis adeptos de menor poder aquisitivo e situados em zonas mais longínquas das grandes metrópoles. Essa é a realidade que infelizmente está longe de acabar.
Por Leandro Massoni