Silêncio à homofobia nos estádios: uma atitude louvável por um futebol para todos
Iniciativas pelo fim da homofobia nos estádios oportunizam a abertura de uma nova cultura que felizmente está, aos poucos, sendo escalada no esporte, que é a cultura do respeito às diferenças.
O jogo entre Vasco e São Paulo no último domingo (25), válido pelo Campeonato Brasileiro, serviu de ocasião para, de certa forma, colocar um fim à homofobia nas arquibancadas. Anderson Daronco se tornou o primeiro brasileiro a paralisar um jogo de futebol por causa de manifestações homofóbicas vindas da torcida vascaína.
Durante a partida realizada em São Januário, gritos de “time de veado”, em referência ao São Paulo, foram entoados por alguns torcedores do Vasco, que venceu a partida por 2 a 0, mas pode perder os três pontos adquiridos caso o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determine a sentença.
Conforme o STJD, o comportamento dos vascaínos leva a equipe a ser enquadrada no artigo 243-G do Código Disciplinar, que diz respeito à prática de “ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”.
Entrevistado pela Rádio Gaúcha, Anderson Daronco lembrou que sua atitude no último domingo está atrelada às diretrizes passadas aos árbitros para a mediação de casos similares. O que faz todo sentido, uma vez que em junho de 2019, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) havia multado a CBF em 15 mil dólares devido às manifestações homofóbicas vidas de alguns torcedores brasileiros em partida entre Brasil e Bolívia pela Copa América.
No mês seguinte, a FIFA reforçou as punições para casos deste tipo. Segundo o Código Disciplinar da organização, atos discriminatórios oriundos de torcida ou membros de clubes de futebol tornam-se passíveis de suspensão do time envolvido por pelo menos dez partidas, bem como a possibilidade de multas financeiras e a desclassificação de campeonatos, perda de pontos em torneios e até rebaixamento e banimento da presença desses times em estádios.
Aqui no Brasil, embora a maioria dos clubes que disputam a primeira divisão do futebol nacional sejam contrários às decisões da FIFA quanto à penalização dos clubes pelas manifestações homofóbicas de suas torcidas, a situação oportuniza a abertura de uma nova cultura que felizmente está, aos poucos, sendo escalada no esporte, que é a cultura do respeito às diferenças.
De longe, a atitude de Daronco e de organismos como a FIFA – embora ainda seja um ambiente que fora corrompido pela corrupção por muitos anos – demonstram um significativo sinal de maturidade e sensatez que vem sendo praticado em outras partes do mundo que praticam o futebol.
A exemplo, a Premier League, o alto escalão do futebol inglês, tem cada vez mais intensificado campanhas de combate à homofobia nos estádios. Em novembro de 2018, o torneio promoveu a campanha Rainbow Laces (Cadarços Arco-Íris), em parceria com a Stonewall, ONG inglesa defensora dos direitos LGBTI.
Na campanha da Rainbow Laces, bandeiras, estandes, faixas de capitão e cadarços com temáticas simbolizadas pela bandeira do arco-íris foram colocadas em campo a fim de representar o combate ao preconceito que ronda nos estádios.
Também não podemos descartar as ações promovidas pelo St. Pauli, tradicional clube alemão que desde 2013 realiza iniciativas contra a homofobia em sua conscientizada torcida. Além de sempre oferecer produtos com a temática pró-LGBTI aos seus adeptos e visitantes, para esta temporada 2019-2020, a equipe inseriu a bandeira do arco-íris em uma de suas camisas oficiais.
A cada dia, o futebol mundial vai se conscientizando que essa causa é necessária ser defendida. Não é questão de “mimimi” ou de que o esporte está se tornando chato, e sim, é uma forma de torna-lo ainda mais receptivo para todos os povos, raças, cores, sexo e ideologias.
Mudar ou repensar os conceitos antes praticados faz toda a diferença para não cometer erros com o próximo. E a atitude de Daronco, assim como a do técnico Vanderlei Luxemburgo, instruído pelo árbitro da partida, pedindo para que a torcida vascaína silenciasse os gritos de “time de veado” são pequenos demonstrativos de que o futebol caminha para um jogo mais seguro e democrático para todos.
Por Leandro Massoni