Pra frente Brasil, mas bem mais pra frente mesmo!
Parece que naquela época em que foi lançada essa música, havia um espírito de alegria que renovava os ânimos do brasileiro por dias melhores, isso após a conquista da Taça Jules Rimet pela terceira vez. Mas tudo isso não passou de uma mera ilusão para tupiniquim ver.
Imagine noventa milhões de pessoas em ação, cantando e entoando o fatídico hino “Salve a Seleção!”, em alusão ao time canarinho que disputava a Copa do Mundo no México, em 1970.
Parece que naquela época, havia um espírito de alegria que renovava os ânimos do brasileiro por dias melhores, isso após a conquista da Taça Jules Rimet pela terceira vez.
Mas tudo isso não passou de uma mera ilusão para tupiniquim ver, de pano de fundo para encobrir uma história obscura que até hoje repercute e assusta com lembranças nada amigáveis.
E esse passado pode ser ainda mais torturantes para quem, de fato, passou pelo inferno que foi aquele tempo marcado pela ferocidade da ditadura.
Sobre a música, ressuscitada em meio às infelizes palavras ditas pela atual Secretária Especial da Cultura do Brasil, Regina Duarte, durante recente entrevista para o canal CNN Brasil, há um sentido mais amplo do que propriamente de apoio ao selecionado comandado por Zagallo, Pelé e cia.
“Pra Frente Brasil“ foi composta por Raul de Souza e Miguel Gustavo. Foi vencedora de um concurso organizado pelos patrocinadores dos jogos do mundial de 1970, época em que o país celebrava o tri-mundial da seleção verde e amarelo e, ao mesmo tempo, amargurava o momento conturbado na política, vivendo sob o AI-5, instituído dois anos antes pelo presidente e general Artur da Costa e Silva.
Quando o time brasileiro venceu aquela Copa do Mundo, o então presidenciável, Emilio Garrastazu Médici, logo percebeu que com este triunfo no futebol, unido aos versos ufanistas da canção de Raul e Miguel, o governo militar poderia arrebatar os corações do povo que já vivia em estado de calamidade com a censura, a tortura e a morte de diversos presos políticos.
Até mesmo, antes daquele torneio no México, e quando a equipe brasileira era comandada pelo jornalista, técnico e militante declarado do Partido Comunista Brasileiro João Saldanha, Médici fazia questão de usar sua imagem surgindo na frente da televisão para persuadir a população.
Incorporando o papel de um torcedor comum, declarava seus votos de sucesso à seleção. E em alguns momentos, tentava escalar o time, como quando sugeriu a escalação do centroavante Dario, preterido pelo “João Sem Medo”, como era conhecido o cronista e treinador.
Este fato, da mesma forma que outros episódios que envolveram a pressão exercida pelo governo, motivou o justo comportamento arredio de Saldanha, que respondeu à Médici com a marcante frase: “o presidente escala o ministério dele que eu escalo meu time”, isso antes de ser demitido do cargo de técnico, em março de 1970, há alguns meses da Copa.
Certo mesmo é que hoje, a censura está tentando voltar aos poucos, tentando levantar uma moral inexistente dos seus heróis encobertos pelas trevas da ditadura.
Mas se a torcida por tempos melhores ainda é válida, pelo direito de que temos de se expressar em um país considerado democrático, ainda prevalece um sensato desejo de muitos para que o nosso Brasil, assim como no poema “Mundo Moderno”, de Chico Buarque, melhore mais, e muito, mas muito mesmo, pois é o que realmente merecemos para vencer a escuridão que nos rodeia.
Por Leandro Massoni