Paulo Freire e sua relação com o futebol
Antes de falecer em 1997, o filósofo e pensador pernambucano recebeu dois anos antes um presente que sempre desejou: uma bola de futebol de couro.
De Pernambuco ao universo da educação, Paulo Reglus Neves Freire, ou Paulo Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial. Principal influência do movimento chamado pedagogia crítica e Patrono da Educação Brasileira, acreditava que a prática do educar assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, contrapondo à então chamada educação bancária, tecnicista e alienante.
Mencionado costumeiramente por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização quanto à formação da consciência política, Freire sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples como um modo democrático de pensar e agir.
Contudo, poucos sabem que esse brasileiro – o mais homenageado da história, com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e América, além do prêmio da UNESCO de Educação para a Paz, em 1986 – gostava de futebol desde criança.
Ao falecer em 2 de maio de 1997, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, em decorrência de um ataque cardíaco, motivado pelas complicações em uma operação de desobstrução de artérias, Paulo recebera dois anos antes um presente que sempre desejou: uma bola de futebol de couro.
E embora tivera desejado um dia se tornar um cantor famoso, ficou mundialmente reconhecido como um dos maiores educadores do século XX. E seus estudos referentes aos seus métodos de estudo e ensino, mostram-nos como podem ter uma relação estreita com o esporte bretão.
Com base em uma pedagogia crítica no futebol, o ato de ensinar esportes deve ser compreendido como uma prática a ser desenvolvida dentro de um processo que reúna ensino e aprendizagem, levando em conta o sujeito (aluno), bem como seu contexto e os seus vários ambientes nos quais se relaciona.
A criação de possibilidades para a construção de novos conhecimentos, no sentido de fazer com que o aluno seja inserido em um espaço propício para isso e o faça interagir com o meio e o que tem para oferece-lo de novo, faz com que ele possa ampliar sua bagagem cultural.
Ou seja, o aluno enquanto espectador da aula deve permitir a troca e a interação com o esporte. “…o respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo para a escola”, dizia Paulo Freire, em sua obra póstuma “Pedagogia da autonomia”.
Ainda na visão de Freire, oferecer ao aluno de esporte/futebol apenas de conhecimentos técnicos, sem uma correspondente reflexão, é uma forma como ele mesmo classificava de ensino bancário e depositário, uma vez que estamos apenas capacitando-o, treinando-o e educando-o no desempenho de destrezas motoras, sem permitir-lhe o desenvolvimento e o aprofundamento de sua capacidade crítica sobre o conteúdo ensinado.
E novamente, “entra em jogo” as palavras do filósofo e educador pernambucano, extraídas de sua obra publicada em 1996:
“É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos não pode dar-se alheio à formação moral do educando. Educar é substantivamente formar”.
Quer dizer, para Paulo Freire, a formação se faz mais importante do que capacitar um aluno com gestos técnicos, pois desta maneira estamos contribuindo para a sociedade e à prática esportiva, permitindo também que haja o olhar crítico por parte de quem pratica e estuda esporte.
Desencadeando a manifestação de um comportamento oriundo do seu entendimento e aprendizado, o indivíduo consegue fazer seu jogo ser não apenas a imitação e reprodução de performances existentes (que seria a prática das modalidades por si só), mas o exercício contínuo de que “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”, segundo Freire.
Assim, o que realmente deve ser ensinado está além do aprendizado do jogo em si e de seus fundamentos dentro de seu contexto. A aquisição de condutas motoras e o entendimento do esporte/futebol como um fator cultural, por consequências humanas, são capazes de estimular os sentimentos de solidariedade, cooperação, autonomia e criatividade.
Viu? Paulo Freire e futebol tem muitas coisas em comum. Pena que um deles partiu antes do outro, mas faz parte vida.
Por Leandro Massoni
Referências:
MARTINS, Mara Lúcia. Paulo Freire: muito além da técnica em educação: O ato de ler a palavra lendo o mundo. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0069_01.html>. Acesso em: 15 out. 2019.
SCAGLIA, Alcides. Para uma pedagogia crítica no futebol. 2009. Disponível em: <https://universidadedofutebol.com.br/para-uma-pedagogia-critica-no-futebol/>. Acesso em: 15 out. 2019.
ALVES, Darlan. Futebol e escola no campo do neoliberalismo. 2014. Disponível em: <http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1280-0.pdf>. Acesso em: 15 out. 2019.