O futebol brasileiro merece cobertura jornalística mais crítica e independente, segundo Milton Jung
É de conhecimento de todos nós que o esporte tornou-se mais rico a partir da dramaticidade que o rádio colocava enquanto um locutor fazia a narração de um jogo, corrida ou qualquer outro tipo de disputa.
O rádio é um dos veículos de comunicação mais precisos em matéria de levar os principais acontecimentos ao seu público. É de conhecimento de todos nós que o esporte tornou-se mais rico a partir da dramaticidade que o rádio colocava enquanto um locutor fazia a narração de um jogo, corrida ou qualquer outro tipo de disputa.
No livro “Jornalismo de Rádio”, da Editora Contexto, o jornalista e âncora do programa CBN São Paulo, da Rádio CBN, Milton Jung, explica em um dos trechos que o rádio cresceu, mais precisamente, com o futebol brasileiro, sendo o veículo de comunicação que mais explorou a emoção do esporte logo nos primeiros anos em que clubes e seleções obtinham sucesso.
Jung afirma que naquela época, o fato da população ouvir as transmissões dos jogos transformou-se em hábito para milhares de brasileiros, e que não foi abandonado mesmo nos tempos atuais, com as coberturas ao vivo feitas pela TV aberta e a cabo e com a ascensão da internet e suas múltiplas plataformas.

Ainda é comum, prossegue o jornalista, que o telespectador assita às partidas de olho na tela e com o ouvido, sintonizado em sua rádio favorita, acompanhando o andamento da partida.
Contudo, a proximidade entre o veículo e o esporte veio a gerar uma dependência e intimidade prejudiciais ao radiojornalismo, uma vez que muitos não sabiam compreender a cobertura esportiva como uma atividade jornalística, o que leva ao desrespeito de alguns preceitos da profissão.
Milton ainda destaca em seu livro o convívio diário de um locutor, comentarista e repórter nos clubes. Muitos deles acabam ganhando a amizade e a admiração tanto por jogadores quanto por técnicos e diretores. Porém, adverte que esse relacionamento, intimidade demasiada com a fonte, pode prejudicar a busca pela isenção, que é um dos pontos mais primordiais a serem zelados no jornalismo.
O âncora da CBN ilustra suas ideias partindo do fato de que o relacionamento pode vir a se transformar em um negócio, o que faz o jornalista tomar o papel de um empresário, comprando e vendendo atletas, pelo fato de noticiar com frequência que determinado jogador deverá se transferir para o seguinte clube. A dupla função também é um dos tópicos analisados pelo autor, que remete ao profissional de comunicação comprometendo sua imagem ao aceitar convites para ser assessor de imprensa de uma agremiação, mas sem abrir mão de seu cargo na redação.
Além disso, lembra que alguns clubes chegam a oferecer passagens aéreas e até estadias para os jornalistas esportivos com o intuito de garantir a cobertura da competição da qual estão participando, principalmente no exterior.
Os deslizes éticos do esporte, um dos perigos apontados por Jung, são comumente nesse segmento, pois muitos narradores, cronistas e repórteres não provocam tanta polêmica ao fazerem aquele “merchandising” ao longo das transmissões quanto um comentarista sobre economia.
E com isso, aumenta ainda mais a responsabilidade do jornalista em defender uma atitude que seja condizente com a profissão, baseada nos princípios éticos, para assim educar o cidadão e tê-lo como seu aliado.
O futebol brasileiro, conforme Milton – e também me atrevo a dizer que, assim como os demais esportes que são praticados e noticiados pela imprensa brasileira –, merecem cobertura jornalística mais crítica e independente, características essas que aparecem em alguns departamentos de esporte dentro do radiojornalismo.
O autor acredita que as rádios que possuem os mesmos compromissos comerciais das emissoras de TV, mas que pela falta de dinheiro, não tem condições o suficiente para assumir negócios milionários, deveriam aproveitar essa situação, bem como a pressão menor que sofrem para realizar coberturas que sejam diferenciadas dos canais televisivos, reforçando a atuação com uma visão crítica e independente, investindo em reportagens que mostrem além dos temas corriqueiros e desenvolvendo, desta forma, um jornalismo investigativo dentro do esporte, incisivo, com base no modelo usado pelos jornais impressos.
Em sua opinião, as redações poderiam tirar o repórter do campo de treino, como é de costume do profissional, de fazer o acompanhamento da equipe a partir do Centro de Treinamento, para colocá-lo no submundo do futebol, solicitando a ele que seja um investigador, buscando dados, informações e indícios que revelem o lado obscuro por trás do esporte.
O futebol, na visão do jornalista da CBN, é tido como um negócio que envolve milhares de brasileiros diretamente na produção de material esportivo, assim como transmissões de jogos e demais personagens que compõe esse cenário, porém, o esporte em si não pode ser tratado como se fosse de uma menor importância ou com menos seriedade, e por isso, adverte, inclusive, a necessidade de uma mudança de comportamento jornalístico tanto na dimensão técnica como ética.
Por Leandro Massoni