Narração offtube: verdades sobre a prática
É comum hoje vermos grandes profissionais de comunicação inseridos no meio esportivo fazerem a cobertura de um jogo de qualquer que seja o esporte Independente de onde seja. Não importa a distância, mas sim o quanto que você consegue extrair de informações e leva-las até seu público com exatidão e instantaneidade.
A narração off-tube é uma das técnicas que vem sendo adotada pela maioria dos veículos de comunicação. Digamos que há um jogo entre Spartak Moscou e CSKA e sua emissora tende a transmiti-lo, uma vez que é detentora dos direitos de retransmissão do campeonato local. Logo, o veículo não pode arcar com a viagem de profissionais qualificados até a Rússia, o que demandaria custos altos. Então, é aí que entra o offtube.
No futebol, como já estávamos logo acima, as narrações feitas em rádio, após o surgimento dos aparelhos televisivos e das coberturas com o uso do áudio visual, começaram a manter seus locutores e comentaristas no estúdio mesmo, evitando gastos maiores caso fossem cobrir uma partida em um lugar mais distante e que exigiria preparo técnico da emissora, ou seja, os esforços financeiros que muitas, pelo menos as de menor porte, tentam evitar e assim, economizar seus centavos.
Nesse caso, o offtube funciona assim: ao invés de locutor, equipe de esportes e cia percorrerem estrada fora até o local de um evento esportivo, ainda mais se for fora do país, as emissoras dão preferência em criar um estúdio, e pela TV ou através de um link via internet, os responsáveis por narrar o jogo desempenhariam seu papel ali, sentados e com a vantagem (ou não) de terem a comodidade a seus alcances, como o ar condicionado naqueles dias mais quentes. Que profissional da comunicação não gostaria disso?
Brincadeiras à parte, a narração offtube teve seu início em plena Copa do Mundo, em 1966, na Inglaterra, com o país sede campeão questionável. Mas naquela época, a proposta de trabalhar dessa forma veio por certas circunstâncias: os estádios não possuíam cabines e acessibilidade para as rádios, sendo que a permissão para narrar as partidas era apenas concedida às emissoras dos países das seleções representadas naquele momento em campo. Assim, as outras rádios ficavam de fora e somente tinham acesso ao centro de imprensa, local que recebia as imagens e o som ambiente do jogo.
No Brasil, essa prática veio com a intenção, é claro, de reduzir os custos das transmissões radiofônicas, sendo adotado esse método de trabalho não apenas para as competições de fora. Em algumas emissoras, com o passar dos anos, algumas partidas deixaram de ser transmitidas com o narrador e sua trupe na cabine do estádio. Outros canais preferiam levar parte de sua equipe, muitas vezes só o repórter, que ficava a cargo de informar o que acontecia. E em outros veículos, a televisão era a única ferramenta de trabalho e imprescindível para a narração dentro do próprio estúdio.
É bem verdade que desse jeito, para quem tem olho clínico e sabe que tanto narrador quanto repórter, cinegrafista e aparatos de emissora, não estão em cena, e sim dentro de uma cabine nos estúdios de uma TV, chega a ser um pouco desanimador, porque a emoção de transmitir uma partida, estando lá, presente no estádio e ouvindo os coros das torcidas e o falatório de jogadores, juiz, comissão técnica de ambas equipes, é bem mais emocionante e traz relatos mais verídicos de como ocorreu a peleja entre as agremiações.
Em um desses episódios, tivemos uma vez o caso de um narrador que, não sendo um adepto às transmissões de jogos usando apenas a televisão, havia se esquecido por completo que tinha repetição de um lance, e nisso, ele acabou narrando novamente! A atitude dele causou extrema estranheza aos telespectadores e a equipe da emissora, e mais ainda ao próprio narrador, que deve ter percebido, depois, o que tinha cometido.
Além de faltar com a atenção no jogo, como aconteceu nessa história, o que devemos ter sempre em mente é o fato de que mentir ao público jamais deve ser feito. Hoje, muitos narradores, antes do início da preparação e do anúncio da escalação dos times, já deixam claro aos telespectadores e ouvintes que não estão presentes no estádio e que a transmissão será feita em uma cabine ou local, nos estúdios da emissora. Dessa forma, já vemos que há ética por parte do profissional e de sua equipe. E cada vez mais, esse costume vem sendo adotado, o que gera menos alvoroço e garante, acima de tudo, a credibilidade dos comunicadores.
Por Leandro Massoni