La Doce, um livro sobre a explosiva torcida do Boca Juniors
Torcidas organizadas no futebol possuem temperamentos distintos. Algumas são mais enérgicas com seu time, outras um pouco mais amenas, mas sem deixar de apoiar e protestar quando preciso. Já a La Doce, é um caso à parte, que reúne históricos de violência e relações conflituosas entre o clube, o Boca Juniors, os jogadores e até a imprensa.
“La Doce – A Explosiva História da Torcida Organizada Mais Temida do Mundo” aborda o lado dos bastidores do grupo de torcedores de uma das “barras” mais temidas na Argentina.
As “barras”, na verdade, são tipos de torcidas da América Latina que incentivam suas equipes com cantos, fogos de artifício e uso de faixas nos estádios, bem como responsáveis por inúmeros atos de violências.
Desde os anos 1960 mantendo relações políticas, trabalhando ora a favor do justicialismo ora ao radicalismo, a La Doce chegou a participar de operações políticas montadas pela antiga Secretaria de Inteligência do Estado. A torcida foi a única no mundo a criar uma fundação legalizada para lavagem de dinheiro oriunda de extorsão de políticos, empresários e desportistas.
Esses e os demais casos são detalhados minuciosamente pelo jornalista Gustavo Grabia, que soube explorar em sua obra o conceito que ultrapassa os princípios basilares (ou comuns de se ver) em uma torcida organizada. As brigas nas arquibancadas são meros acontecimentos diante da obscuridade contida nos interiores do Estádio La Bombonera nos dias de jogos do Boca.
O livro, lançado em 2012 e traduzido ao português pela editora Panda Books, com prefácio de Mauro Cezar Pereira, jornalista da ESPN Brasil, percorre a trajetória da “barra” antes de sua fundação, em 1973, mostrando em ordem cronológica alguns fatos, como o surgimento do nome (que se refere ao 12º jogador em campo, que é a torcida).
Dados da polícia argentina, assim como de relatos de violência que antecedem o grupo apresentam um panorama do que estaria por vir com a criação da La Doce, que teve como um de seus precursores Quique “El Carnicero”.
A história ainda desemboca nas gestões de José Barrita, também conhecido como “El Abuelo”, Rafael Di Zeo – e família – e Mauro Martín, que em sua maioria foram presos ou envolvidos em escândalos diversos. Em suma, o livro de Grabia é imprescindível para o entendimento do comportamento e o poder de ser pertencente a um grupo defensor de causas nefastas que abrangem as quatro linhas dos gramados de futebol.
Na orelha do livro – um pequeno spoiler, talvez – o autor releva que quando criança, o plano de ir ao estádio era muito mais do que ir ao jogo de futebol, uma vez que era tido como um lugar de conexão entre pais e filhos e demais sensações fora do espetáculo com a bola praticado pelos atletas. Mas que, com o passar dos anos, o que era bonito de se ver deu lugar aos atos truculentos das barras bravas. “E a La Doce é o símbolo mais generalizado dessa vioência”, conta Gustavo.
Por Leandro Massoni