Irmã Dulce, o Anjo Bom da Bahia: devota a Deus e ao futebol
Próxima brasileira a ser santificada pelo Vaticano, a bem-aventurada Dulce dos Pobres escolheu o futebol para unir sua família após a morte da mãe.
Prestes a se tornar a próxima santa brasileira canonizada no Vaticano, a freira baiana Irmã Dulce levou uma vida dedicada à caridade para com os mais pobres, mas também tinha seus gostos peculiares e não escondia de muitos que o futebol era mesmo sua praia quando se tratava de esportes.
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Ponte, a popular Irmã Dulce, chegou a frequentar estádios de futebol durante a infância. Torcedora devota do Esporte Clube Ypiranga, tradicional clube baiano, a freira que aos 13 anos descobriu sua vocação religiosa dividia seus compromissos com a igreja católica com o esporte bretão.
Em entrevista concedida à TV Bahia, em 1986, ela falou de forma detalhada sobre sua relação com o futebol. “Quando eu era pequena eu adorava ir para a rua brincar de bola”, disse.
No campo do bairro da Graça, principal praça esportiva de Salvador, o futebol estava nas bocas e nas graças do povo e de Irmã Dulce. O Ypiranga, clube que ostentava o amarelo e o preto sua camisa, era a atração local, sendo comandado por Apolinário Santana, o Popó, considerado um dos maiores da modalidade na Bahia.
Em 1928, um cirurgião dentista chamado Augusto Lopes Pontes, assim como os demais torcedores do Ypiranga, impulsionava o coro a favor do time em mais uma partida válida pelo campeonato estadual, acompanhado de sua filha, uma pequena apaixonada por futebol.
E essa menina, filha do senhor Augusto Lopes era ninguém menos que a então futura beata – e hoje santa – Irmã Dulce, que encantada com a beleza dos jogos, fazia sempre questão de lembrar aos mais achegados que era uma assídua frequentadora dos estádios e torcedora do Ypiranga, “O Mais Querido” como era conhecido o clube que tivera a maior torcida do Estado.
A agremiação aurinegra fundada em 7 de setembro de 1906 era tão forte entre os anos 1920 e final dos anos 1940 que chegava a rivalizar com o então jovem Esporte Clube Bahia. As duas equipes sempre estavam na disputa para ver quem faturava o título de maior campeão baiano.
Até a sua fase mais áurea, o Ypiranga conquistou 10 títulos, contra os 12 levados pelo Bahia, que viria a ser mais tarde o maior campeão estadual – atualmente com 48 canecos.
Mesmo nas vitórias, nos empates e até nas tristes derrotas, a Dulce dos Pobres quando menina não deixava de acompanhar seu clube de coração. “Eu era fã do Ypiranga. Eu ia todo domingo para o Campo da Graça com meu pai ver futebol. A gente voltava sem poder falar”, contou, em 1986.
A equipe baiana e o futebol foram responsáveis por unir sua família após a morte da mãe, que obrigou o pai a ser mais presente, e então, ele escolheu o esporte para fortalecer a relação com os filhos.
Com a tradição sendo passada de pai para filha, não havia um domingo que Irmã Dulce não levava as cinco crianças para o Campo da Graça, o principal estádio da Bahia na época.
E assim sua paixão pelo Ypiranga foi crescendo tanto que quando ela aprontava alguma travessura, era proibida de ver os jogos, sendo este seu pior castigo.
Outro detalhe interessante de ser mencionado sobre o time ypiranguense está em 1934. Naquele ano, durante o título nacional da Seleção Baiana, conquistado contra a Seleção Paulista, o clube foi representado por vários jogadores, entre eles alguns negros.
Fato esse que naquele tempo quebrou preconceitos, pois somente os atletas de famílias mais ricas eram aceitos nos clubes e poucos negros podiam jogar futebol. E nomes como os de Popó e Pedro Braz, herói na conquista de 1934, foram os primeiros a romper essa barreira.
Não à toa que a inclusão e o respeito pelo próximo demonstrados pelo “Mais Querido” encantaram a Irmã Dulce, que não deixava de admirar Popó, o escuro com as pernas tortas, e sua habilidade com a bola nos pés. Ela inclusive chegava a comparar o “danado” (e não endiabrado, como costumamos ouvir por aí) jogador com Pelé, dizendo que ele era o seu preferido.
O Anjo Bom da Bahia, falecido em 1992 em decorrência de causas naturais, indicado ao Prêmio Nobel da Paz por sua luta e cuidado com os mais necessitados, e beatificado em 2011 após a confirmação de seu primeiro milagre, que foi a salvação de uma mulher de uma hemorragia pós-parto, onde quer que esteja, continua a abençoar o futebol brasileiro e sua rica história, bem como a Bahia de Todos os Santos, dos Orixás, de Menininhá do Cantuá, dos angoleiros, dos regional, do Mercado Popular, de João Péqueno, de Curió, de Boca Rica, Mestre Lua, de Bobó.
Êta Bahia porreta, essa!
Por Leandro Massoni
Fontes:
PEREIRA, Felipe. Fã de futebol, indicada ao Nobel, só dormia sentada: fatos sobre Irmã Dulce. 2019. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/10/08/indicada-ao-nobel-e-apaixonada-por-futebol-10-curiosidades-de-irma-dulce.htm>. Acesso em: 10 out. 2019.
CARVALHO, Eric Luis. Beatificada neste domingo, Irmã Dulce era apaixonada por futebol. 2011. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/ba/noticia/2011/05/beatificada-neste-domingo-irma-dulce-era-apaixonada-por-futebol.html>. Acesso em: 10 out. 2019.
BRANDALISE, Camila. Irmã Dulce: primeira santa brasileira trocou o futebol pela igreja. 2019. Disponível em: <https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/05/17/irma-dulce-primeira-santa-brasileira-trocou-o-futebol-pela-igreja.htm>. Acesso em: 10 out. 2019.