Albert Camus: poeta, ex-amigo de Sartre e apaixonado pelo esporte bretão
Embora imerso nas lutas pelas causas sociais, o escritor franco-argelino chegou a achar tempo para praticar o esporte jogado com os pés.
Escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista e ensaísta franco-argelino. Tudo isso foi Albert Camus, franco-argelino aprendiz das escolas do Absurdismo, Existencialismo e Anarquismo. Além de ter atuado como jornalista militante durante a Resistência Francesa (1940-1944), e possuir trabalhos no campo artístico como peças de teatro, novelas, notícias, filmes, poemas e ensaios, nos quais desenvolveu suas pesquisas acerca da consciência do absurdo da condição humana e na revolta como uma resposta para todo esse absurdo, ele ainda encontrava tempo para o futebol.
Embora sua carreira literária fora reforçada pelas lutas pelas causas sociais, nas quais protestou contra as desigualdades que atingiam os muçulmanos no Norte de África e defendeu os exilados espanhóis antifascistas e as vítimas do stalinismo, Camus era um exímio apaixonado pelo esporte jogado com os pés.
Ainda jovem, quando completou seu doutorado para começar a lecionar, sua saúde piorou. Ele havia sido acometido por uma forte crise de tuberculose, que o impediu de continuar a praticar seus “ensaios literários” como goleiro da seleção universitária. O futebol era uma base concreta do seu aprendizado, tanto que lhe rendera congratulações pelo seu desempenho embaixo das traves do gol.
De acordo com Blog Página Cinco, do jornalista Rodrigo Casarin, cada vez que Camus chegava em casa, sua avó sempre conferia as solas dos seus sapatos para ver se não estavam muito gastas, e para escapar dos castigos, resolveu deixar a correria para os jogadores de linha e cuidar apenas da meta de seu time.
Mesmo afastado do esporte, seu amor por ele não parou de crescer. Ao visitar o Brasil em 1949 para realizar algumas palestras. Foi até o município paulista de Iguape, conheceu a tradicional Festa do Senhor Bom Jesus da cidade, e estando acompanhado de Oswald de Andrade e seu filho Rudá, ainda teve tempo para deparar-se com a imensa idolatria ao jogo. E embora debilitado por causa da tuberculose, pediu para que o levassem a ver uma partida de futebol
Em uma de suas frases mais famosas, Albert afirmava que “o que eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem eu devo ao futebol”. Além dessa, o escritor também dizia que tivera aprendido “que a bola nunca vem por onde esperamos que ela venha. Isso me ajudou muito na vida”.
Nobel de Literatura em 1957, Camus foi filiado ao Partido Comunista, do qual foi expulso e amplamente criticado pelos vermelhos mais radicais, entre eles, seu ex-amigo Jean-Paul Sartre. Os dois brigaram por causa de suas linhas ideológicas, sendo que o filósofo existencialista, que foi autor de obras como “Mortos Sem Sepultura” (1946) e “Freud Além da Alma” (1984), defendia o uso da violência como via para a revolução no contexto político-social.
Mas, sabendo que o futebol era, em muitos casos, um instrumento pacificador e de reconciliação entre pessoas e nações, será que se Albert Camus tivesse convidado Sartre para pelo menos acompanhar uma partida dessa modalidade ao seu lado amenizaria as diferenças que ambos tinham um do outro? Acredito que não. Entretanto, seria interessante como um registro histórico da relação conturbada desses dois expoentes literários franceses.
E pensar ainda que Sartre quase encontrou com o Santos de Pelé e cia durante sua passagem por Araraquara, no interior paulista. Porém, isso é outra história, que fica para um próximo texto.
Por Leandro Massoni
Referências:
CASARIN, Rodrigo. Albert Camus: goleiro, Nobel de Literatura e referência para Mbappé. 2018. Disponível em: <https://paginacinco.blogosfera.uol.com.br/2018/07/06/albert-camus-goleiro-nobel-de-literatura-e-referencia-para-mbappe/>. Acesso em: 01 out. 2019.
LOPES, Vera Serra. A fundamentação e os limites da violência a partir de Jean-Paul Sartre. 2016. Disponível em: <https://revistacaliban.net/a-fundamenta%C3%A7%C3%A3o-e-os-limites-da-viol%C3%AAncia-a-partir-de-jean-paul-sartre-6e9eaadb7869>. Acesso em: 01 out. 2019.