A primeira mulher numa cobertura de Copa do Mundo na TV brasileira
É bem verdade que milhares de mulheres tem a cada dia mais conquistado seu espaço no meio da comunicação mostrando seu talento e competência diante dos obstáculos impostos pela profissão.
Recentemente, e mais precisamente nesta época da Copa do Mundo Feminina, que ocorre na França, diversas jornalistas mulheres vem se desdobrando ao máximo junto com seus colegas de imprensa para fazer uma cobertura esportiva digna em vista da alta proporção e repercussão do evento.
Em alusão ao profissionalismo de nossas mulheres jornalistas, destacamos o exemplo de Maria Luiza, considerada a primeira mulher numa cobertura de Copa do Mundo na TV brasileira.
Recém-formada em jornalismo em 1977, Maria fez um estágio na TV Globo. Na época, deixou claro que queria trabalhar no esporte para o diretor Armando Nogueira, que a encaminhou para o editor Hedyl Valle Jr.
Com pouco tempo de trabalho no setor, recebeu a grata notícia de que estava escalada para participar da cobertura da Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Hedyl a informou-que ficaria na cidade de Córdona, na qual estavam treinando as seleções da Alemanha, Peru, Irã, Tunísia e Polônia.
Em seu livro, “História do Jornalismo Esportivo na TV Brasileira”, o falecido narrador e comentarista esportivo Alberto Léo traz um depoimento de Maria Luiza. A jornalista afirma que, por ser uma mulher credenciada numa Copa do Mundo, era vista como uma novidade, algo curioso.
Todavia, quem mais acharam estranha a presença de Luíza nos treinos eram os jogadores do Irã. Logo no primeiro dia de cobertura, a repórter foi recebida pelos iranianos com uma chuva de rosas. Ao entrevistá-los durante a concentração, ela se viu cercada por eles, que através de um intérprete, faziam todo e qualquer tipo de pergunta. A principal indagação do selecionado do Oriente Médio foi: “por que uma mulher fazia aquele tipo de trabalho?”.
Maria relata que por causa da correria que eram a cobertura dos treinos das seleções, as equipes de reportagem costumavam ficar em pontos totalmente opostos da cidade, o que obrigava os profissionais a fazer muitos deslocamentos. E por causa do fuso horário na Argentina, as matérias tinham que ir o quanto antes para o Brasil.
Outro detalhe narrado pela jornalista era quando ela e a equipe eram parados diariamente nas estradas, sempre nos mesmos pontos, pelo exército argentino, que vivia o auge do regime militar. Perguntas como “te gusta Argentina?”, entre outras, já não eram nenhuma novidade para os transeuntes de passagem pelo local.
Apesar disso, Luiza destacou a experiência como fascinante. Embora a pressa sempre fosse a inimiga da produção, uma vez que tudo era feito devido a urgência dos acontecimentos, sem pausa, e muito menos pauta! Claro que havia uma orientação, uma linha a seguir, que era dada por telefone, direto de Buenos Aires, na maior parte das vezes. Mas você há de concordar: naquele tempo, sem celular, internet, laptop, o serviço ficava ainda mais dificultoso. Sorte a nossa que os tempos mudaram!
Numa outra parte do depoimento para Alberto Léo, Maria Luiza recordou o espanto que sua presença causou até no país-sede: “num domingo à noite, durante a Copa, eu cheguei ao hotel cansada e encontrei uma equipe de reportagem me esperando. Eles faziam um programa de variedades na televisão local e queriam que eu fosse dar uma entrevista ao vivo. (….) Fomos, e eu tive de falar dos jogos, do meu dia a dia, se meu pai tinha deixado eu ser repórter, se eu não tinha namorado, por que eu tinha escolhido uma profissão tão pouco feminina, quem era meu cabelereiro etc. Parece que Córdoba inteiro assistiu ao tal programa, pois no dia seguinte eu estava de folga e fui ao comércio. Foi terrível. As pessoas vinham falar com “la chica periodista” do Brasil. Era criança pedindo autógrafo e eu fugindo. Até aí tudo bem. Pior foi aturar as brincadeiras da equipe técnica…”.
Profissionais como Maria Luiza não costumam fugir da raia. Um viva a todas elas!
Por Leandro Massoni